Os espelhos ainda nos devolvem a candura do que somos,
mas
também anunciam a cinza que sepultara os corpos,
algures,
num esquecimento e
numa dor obscura de nós próprios.
Temos de aprender a subjugar o destino
à nossa vontade.
Ainda é possível mergulhar nos espelhos e
roubar-lhes os vestígios felizes de nossos rostos.
Ainda é possível apagar as dolorosas manchas da memória e
recuperarmos o rosto da alegria que nos pertenceu.
É esse o nosso rosto, mesmo que seja morto.
Regressa.
Regressa ao escorrer dos dedos enrolados no sexo,
ao riso matinal dos corpos saciados,
às nocturnas conversas das esplanadas,
aos jogos de sedução,
aos engates,
ao murmúrio das vozes,
à ofegante trepidação da manhã,
regressa... regressa.
Porque as palavras não te substituem e
estão cheias de pústulas no coração das sílabas.
Regressa e
oferece-te à preguiça triste de quem continua aqui,
vivo,
sorvendo a espiral da sua própria ausência.
Regressa, peço-te, mesmo antes de partires.
Regressa à voracidade do desejo, e
à incendiada paixão dos nocturnos tigres.
Al Berto