segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

Carlos Drummond de Andrade

1 comentário:

Eduardo Ramos disse...

BEEEEM!
Quase que pegando em cada uma das frases se consegue fazer um outro poema com o mesmo tema.
Definitivamente não é para ler de enfiada, correndo o risco de se perder metade.

:)