terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ausência...

Estou mudo porque todas as palavras te escutam.

Vasco Gato

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Falavam-me De Amor

Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.

Natália Correia

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Religião (ou Reflexão)

As figuras imaginárias têm mais relevo e verdade que as reais.

Fernando Pessoa




sábado, 20 de dezembro de 2008

Em Caminhos

Eu, quando sou eu,
É apenas por distracção.
E apenas para ser ninguém
me sobeja vocação.

Mia Couto

De Caminhos

O homem que acha que os segredos do mundo são para sempre insondáveis vive no mistério e no medo.
A superstição arrasta-o para o abismo.
A chuva acabará por esfarelar os feitos da sua existência.
Mas do homem que atribui a si mesmo a tarefa de isolar da trama do cosmos o fio da ordem podemos dizer que, com essa simples decisão, tomou as rédeas do mundo nas suas mãos e só dessa forma conseguirá ditar os termos do seu próprio destino.

Cormac McCarthy

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Há dias que são como espaços preparados para que tudo doa.

Roberto Juarroz

Sabes

vesti-te de palavras
com o perfume da poesia
só para te despir na leitura

José António Gonçalves

Simplesmente Amar (te)

Nao importa o que se ama.
Importa a matéria desse amor.
As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor.
As palavras são um principio - nem sequer o principio.
Porque no amor os principios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma historia que continua para lá dela, antes e depois do sangue breve de uma vida.
Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor.
O sujo, a luz, o espero, o macio, a falha, a persistencia.

Inês Pedrosa

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Atrás Do Tempo

Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?

Fernando Assis Pacheco

Desvios

As pessoas não têm consciência de que quando se empenham inteiramente em servir o sistema e fazem de peça útil, comprometem talvez o melhor de si próprias.
Não chegam a desfrutar, do cume a que poderiam ter chegado, a dimensão para que foram feitas.

António Alçada Baptista

domingo, 14 de dezembro de 2008

Prisão

Estou a ouvir-me gritar dentro de mim,

mas já não sei o caminho

da minha vontade

para a minha garganta.

Fernando Pessoa

Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mário Cesariny

sábado, 13 de dezembro de 2008

Mesa Dos Sonhos

Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas

Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.
Alexandre O'Neill

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Notas De_Vida(s)

Procuro que a minha vida vá tendo a musicalidade duma constante pergunta e nunca o monolitismo paralisante duma conclusão.
Estou absolutamente certo de que nem eu nem ninguém anda com a verdade no bolso, mas estou certo também de que dela irremediavelmente nos aproximamos pelas coisas que descobrimos e pelas resistências que vencemos.

António Alçada Baptista

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Chama-me

Abro-te as portas querendo
a tua luz
numa sede de ti que não se acalma
Não me negues a água
que mata a minha sede
Desejo o teu incêndio
queimando a minha alma

Maria Teresa Horta

Poema

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

(in)Tempo(ral)Idade

Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Impasse

Tão longe e aqui mesmo
te sinto,
tão longo o abraço
que não dou

tão gélido o toque
das palavras
de encontro ao peito
aberto, indefeso…

tão estreito o caminho,
tão fundo o abismo
diante dos olhos exaustos
à procura de abrigo…

Ângela Santos