terça-feira, 23 de setembro de 2008

Nocturno

Conheço cada vez melhor aquilo que de mim se despede e não regressa, e aquilo que nasce algures onde já não estou.
Perdi o controle dos meus pensamentos, tudo se confunde num sem tempo onde a minha lucidez, a minha razão, são outras.
(...)
Não é possível roubar à vida um corpo nocturno.
É demasiado escuro, pesado, e mal se vê e pressente.
Só a luminosidade solar é capaz de o devorar, de o apagar.
Será por excesso de luz que deixarei de ser.
O meu corpo nocturno tem séculos de existência mas, mal desponta a madrugada, desgasta-se numa fracção de segundo.
Tudo vem ao chamamento.
Penso mar, e o mar enche-me a alma e as mãos.
Balbucio cal, e na pele do tempo cresce uma casa onde não viverei, ergue-se uma cidade de melancolia na incerteza dos punhos, e nela nos ferimos.

Al Berto