quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Recusa

Todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada.
Ficaram só os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.
Os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas.
Sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora,não irei negar isso.
Não irei negar nunca que te amei.
Nem mesmo quando estiver deitado, nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a foder.

José Luís Peixoto

2 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Pois, é também por isto que as palavras são validadas pelos actos. E se tornam inverdades :-D

Por isso a mentiras aconchegam-se nos lençóis, acumulando sentires de passagens de tantos corpos nus...

Por vezes, tantas vezes, com que veleidade se pronuncia a palavra amor...

Acho este blogue um encontro comigo e os poetas que adoro...

Nikita disse...

É verdade... é preciso distanciamento, tempo e serenidade para olhar para trás e ser capaz de verbalizar o que de facto se sentiu. No calor do momento, nomeadamente no momento após a ruptura, esse distanciamento é muito difícil! O rancor, a dor, o desapontamento, a decepção, o ressabianço ou lá o que for que cada um sente após a ruptura do seu relacionamento vai sempre interferir na análise que se faz!