quarta-feira, 29 de julho de 2009

Só (Contigo)

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo,
e desisti.

Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos
a loucura de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.

Só por dentro de ti
a noite escuta o que me sai, sem voz,
do coração.

David Mourão-Ferreira

1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Vim em busca de novos poemas e depois vi que este me tinha passado... :-D

Belíssimo.

Bem dentro de mim..